terça-feira, 29 de março de 2011

REGIÕES CULTURAIS FLUMINENSES: DESAFIOS E OPORTUNIDADES



O fato de em 2010 a Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro (SEC) ter realizado uma série de encontros no interior, discutindo uma proposta de planejamento para a cultura fluminense levando em conta sua territorialidade, determinou um avanço em termos de políticas públicas no estado.  Isto porque o efeito imediato da proposta foi o da descentralização das nossas atenções, que se voltaram para o universo cultural existente fora da região metropolitana, um exercício tardio e por isso mesmo urgente.

Os Territórios de Identidade baianos foram uma das
inspirações para a formulação da metodologia proposta
para a elaboração do plano estadual de cultura do RJ


Os inúmeros desafios enfrentados pela administração estadual para implementar, eficientemente, programas de governo em todo o território fluminense são, em parte, decorrentes das sucessivas mudanças dos estatutos jurídicos do estado.  É o que afirmam alguns estudos que tratam da matéria. No curso de sua longa história, o Rio de Janeiro exerceu diferentes papéis na administração política do território nacional.  Tal fato, que ajudou a consolidar sua importância em todo o país, uma centralidade em âmbito nacional, acabou também por contribuir com a fragilidade de sua centralidade interna, que ainda se manifesta, por exemplo, nas frágeis relações  institucionais entre a capital, centro do poder, e os outros municípios da região metropolitana e, principalmente, os do interior. 



Alguns estudos já foram
publicados sobre a questão
da Capital X Interior no RJ



O último episódio destas transmutações dos estatutos jurídicos, com impactos ainda evidentes na gestão da cultura fluminense, foi o da fusão, em 1975, do Estado da Guanabara e do Estado do Rio de Janeiro. Historicamente ofuscado pela importância carioca no cenário cultural nacional, o interior fluminense reivindica, desde a fusão, o reconhecimento da importância do seu rico universo cultural, seu quinhão dos recursos públicos existentes e, mais recentemente, sua efetiva inclusão no processo de elaboração de políticas públicas para o setor cultural.

As oito regiões do estado do Rio de Janeiro com a Metropolitana em destaque


No movimento em prol da construção desta agenda para a cultura fluminense, a SEC propôs uma mudança de paradigma, que permitiu no decorrer do ano de 2010 o envolvimento do interior fluminense em todo o processo. Assim procedendo, a atual gestão da secretaria estadual deu importante passo para uma revolução.  Digo isso sem exageros, uma vez que por uma série de fatores ao longo de sua existência, o citado órgão tem sistematicamente priorizado recursos para a zona nobre da região metropolitana, beneficiando em especial o centro e a zona sul da cidade. E todos nós sabemos: não existe política pública sem recursos públicos.
 
Jornais e revistas do interior fluminense deram ampla cobertura
aos Encontros Municipais e Conferências Regionais de Cultura

 


Em 2005, ano em que cheguei para trabalhar na SEC, estava a todo vapor a consolidação de um modelo de produção cultural extremamente dependente da renúncia fiscal.  O próprio Estado tinha virado refém de tal engenharia.  Com parcos recursos próprios, sem capacidade de investimento, e vendo as empresas fazerem a festa com o dinheiro público destinado à cultura, a SEC se esvaziava, limitando-se a ter um papel burocrático, basicamente restrito à aprovação dos projetos submetidos à Lei de Incentivo Fiscal. Tal cenário, se não impedia, limitava em muito as ações efetivas que envolvessem o interior, apesar dos esforços, desejo e comprometimento daqueles que lá trabalhavam.  Durante este período foram realizados vários encontros no interior, promovendo a articulação regional, a exemplo dos Encontros Regionais de Cultura, organizados pela Subsecretaria de Ação Cultural, mas que acabaram por não ter maiores resultados e consequências ante a falta de recursos para ações concretas.  Com este panorama, não havia condições de pensar em um planejamento em longo prazo, e a gestão se limitou a ações isoladas e pontuais.  Era o que dava pra fazer.  



Foto da inauguração de uma Sala popular de Cinema,
iniciativa na época financiado pela renúncia fiscal, ou seja, um
projeto de governo que dependia da aprovação de uma empresa


Mudanças importantes no cenário político e na administração estadual ocorreram e, no final de 2009, as discussões internas com vias à elaboração de um plano estadual de cultura começaram  paulatinamente a ganhar espaço dentro da secretaria estadual de cultura.  Em 2010, beneficiando-se de um contexto favorável provocado pelas ações do MINC em torno da elaboração do Plano Nacional de Cultura e respaldada pelo prestígio da pasta da cultura junto ao atual governador, a secretaria foi à luta. Visitou todos os noventa e dois municípios fluminenses e realizou oito conferências regionais, fazendo algo raro em encontros deste tipo, que colocam frente a frente poder público e sociedade civil: ouviu.  Foi com uma proposta em mãos, mas foi com tempo para ouvir aqueles que se ocupam do fazer cultura em todo o estado e genuinamente esforçou-se para incorporar colocações, sugestões e críticas à metodologia do projeto e ao conteúdo dos relatórios.


Arco-Íris da Cultura: as conferências regionais,
como a de Saquarema, mobilizaram artistas,
gestores públicos, militantes e simpatizantes


A despeito do inegável avanço, tanto no cenário político como na eficiência da gestão da SEC, pensar as regiões culturais continua sendo um grande desafio, a começar pelo fato de que tais regiões, distintamente das esferas municipal e estadual, não existem enquanto entes administrativos.  Políticas de âmbito regional exigem, por esta razão, um esforço contínuo de articulação entre estas duas esferas (estado e regiões). E continuidade, todos sabem, não é o forte do poder público no país.  Neste caso o problema é, em grande parte,  decorrente da inexistência de uma agenda consensual baseada em diagnósticos confiáveis que possibilitem a formulação de um planejamento que contenha propostas em médio e longo prazo para a cultura fluminense.

Para cada um das 8 regiões foi feito um relatório inicial,
chamado de Notas para um Diagnóstico Preliminar

Outro desafio refere-se a falta de consenso no governo estadual em torno da configuração das regiões fluminenses.  O turismo divide de uma maneira, a educação de outra e a cultura busca definir as suas regiões de acordo com a força das tradições e das práticas culturais hoje existentes.  Estas diferenças, apesar de compreensíveis, configuram-se em  um obstáculo a mais para possíveis ações transversais conjuntas de âmbito regional, que poderiam envolver várias secretarias de estado, como por exemplo, no lançamento de editais em parceria, dentre outras possíveis iniciativas que certamente fortaleceriam o processo de construção de uma Política de Estado para a cultura no estado do Rio de janeiro.

A configuração das regiões observada pela Turisrio
difere da proposta em andamento na secretaria de cultura


Ao ter a oportunidade de visitar todo o interior fluminense entre março e setembro de 2010, foi fácil perceber a necessidade de fortalecer a relação institucional entre estado e municípios, como forma de estimular o pensamento coletivo, o de âmbito regional. Neste sentido, destaca-se que a SEC tem procurado articular-se com os municípios a partir de uma proposta concreta e viável de se consolidar em curto prazo, sem cair na tentação de terceirizar esta iniciativa, ou seja, apostando suas fichas em programas com recursos públicos, como o PADEC, e na força da presença física da secretaria em todo o território fluminense, como na estruturação do Sistema Estadual de Museus, nas ações ligadas às superintendências de Artes, Audiovisual, Leitura e Conhecimento, apenas para citar algumas iniciativas do cardápio atual. Assim procedendo, a SEC acabou por estimular a interação com e a integração dos municípios do interior neste processo de construção envolvendo todas as regiões do estado.  


O PADEC viabilizou pela primeira vez na história
um repasse da secretaria estadual às secretarias
municipais de cultura, na ordem de R$ 15 milhões

Apesar do bom início, o sucesso e a própria continuidade desta empreitada que tem dinamizado o tecido cultural fluminense depende do fortalecimento dos órgãos públicos de cultura e da capacidade destes em estabelecer relações institucionais, selando parcerias e aglutinando interesses regionais.  Isso pode ocorrer através, por exemplo, de consórcios, que já ameaçam a pipocar aqui e acolá, ou a partir de outros tipos de parcerias que podem envolver ou não a iniciativa privada. O que não parece possível é a consolidação de um cenário diferente do atual baseando-se apenas em afinidades pessoais daqueles que hoje estão gestores. São inúmeras as ações exitosas no passado que acabaram por sucumbir ao alto grau de instabilidade política e administrativa do setor cultural.  Neste sentido é importante pontuar: os diagnósticos preliminares comprovam que, tanto os órgãos municipais responsáveis pela gestão da cultura, como a própria secretaria de cultura do estado, são carentes de bons quadros compostos de funcionários concursados e de recursos garantidos por lei, condições essenciais à elaboração e gestão de programas estruturais e setoriais de longo prazo.  

Casimiro de Abreu é um exemplo de fortalecimento
institucional que promete dias melhores para a cultura
no município, impulsionando a região e inspirando o estado
 


Ao abraçar a missão de dialogar com todos os 92 municípios fluminenses e enfrentar as dificuldades na articulação de tal amplitude, a estratégia da SEC em mobilizar os municípios a partir de seus interesses coletivos, através das regiões culturais, não apenas revelou-se eficaz, mas também surpreendeu pelos seus resultados imediatos e pela oportunidade de fortalecer a própria SEC em outras frentes de batalha. Ressalto, para começar, a adesão dos municípios, e aqui não me refiro apenas às autoridades e aos órgãos públicos, mas destaco o interesse despertado na sociedade civil (artistas, gestores, imprensa, militantes e muitos simpatizantes), fato que possibilitou a efetiva incorporação do interior  como agente participante de todo este processo.  É importante também salientar que esta nova lógica, que tem permitido a participação do interior na construção desta proposta política, pode ajudar a dar rumos mais coerentes à renovação do Conselho Estadual de Cultura e também tem o potencial de ajudar a pavimentar a estruturação de um novo modelo de gestão, que tem um nome: Sistema Estadual de Cultura.  Finalmente o diálogo frequente com as regiões gera melhores condições para a elaboração e avaliação constante dos diagnósticos, produzindo resultados mais condizentes com a realidade da cultura em todo o estado, algo imprescindível para qualquer gestão. 

Plano = Diagnóstico + Propostas


O processo é longo e há de se ter paciência.  Alguns grupos eventualmente carecem desta virtude, expondo as fissuras e os antagonismos infelizmente existentes entre os interesses da política da cultura e da cultura da política. Tais grupos sempre me incomodaram, mas hoje vejo diferença importante nesta minoria.  Existem aqueles que são militantes da cultura e buscam contribuir com a pauta de uma agenda política e existem os que são os militantes da política e buscam pautar a agenda da cultura.  Tal ambiguidade além de não favorecer o processo de construção, acaba alijando ainda mais o interior, menos mobilizado e articulado politicamente.  Ao pensar em representatividade regional a SEC marca um ponto para esvaziar um pouco o irritante uníssono dos chatonildos de plantão. Enfim,  houve quem entendesse e deixasse de lado diferenças políticas em nome de uma construção suprapartidária, como demonstraram alguns gestores de municípios que não faziam parte da bancada de apoio do governo atual.

 

Movimento Amplo: a proposta mobilizou até
municípios ligados a grupos políticos de oposição

Todo este processo, até onde eu entendo, não intenciona diminuir a importância cultural do município do Rio de Janeiro.  Busca sim, incorporar o interior e a Baixada Fluminense fortalecendo uma agenda política capaz de ser percebida como legítima e representativa por todos aqueles que fazem cultura no estado. Certamente não será de uma hora para outra que lograremos êxito em tudo, como não será da noite para o dia que a cidade do Rio de Janeiro deixará de ser o centro gravitacional que é, capaz de atrair atenções e recursos privados e públicos, muitos destes para cumprir obrigações estabelecidas em lei, asfixiando ainda mais o ainda limitado orçamento da cultura.  Aliás, como ficou claro em todos, digo, todos os 92 Encontros Municipais de Cultura, esta tendência de concentração de recursos na capital do estado se reproduz na relação entre as sedes e os distritos dos outros municípios.  É então plausível imaginar que os avanços iniciais não sejam capazes de abrandar satisfatoriamente a histórica tendência  da centralização no uso de recursos e ações limitadas às áreas centrais dos municípios fluminenses. Mas os primeiros passos são promissores para que esta centralização seja atenuada.
 
Cerca de quatro mil agentes culturais estiveram presentes nos
encontros promovidos pela secretaria estadual de cultura em 2010

Visando firmar os pilares para as mudanças no cenário atual, a SEC deflagrou um processo com base em uma articulação que reuniu à mesa, estado e municípios, com a presença e efetiva participação da sociedade civil, esta ansiosa por avanços concretos. É este o desafio que hoje se apresenta à secretaria estadual, o de corresponder à expectativa criada em todo o estado e levar adiante a construção do Sistema Estadual de Cultura e a elaboração do Plano Estadual de Cultura,  numa janela de oportunidade com data de vencimento. Em 2012, é bom lembrar, os 92 municípios estarão envolvidos em eleições. Não há tempo a perder, pois uma eventual mudança no cenário político do interior  (mudança de gestores e agendas) poderá provocar retrocessos indesejáveis. Não é tarefa fácil nem rápida, a de elaborar esta proposta estruturante e ampla por natureza.  Demanda tempo para ser negociada com os diversos atores de um cenário pra lá de complexo.  Mais tempo será necessário para que este resultado seja negociado e encaminhado à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, transformando-se provavelmente em um Projeto de Lei, cuja aprovação será determinante para que o Rio de  Janeiro finalmente possa ter um marco legal que garanta os ganhos que todos buscam para a cultura fluminense. 

Os que transitam no cenário garantem: a hora é esta, a de aproveitar o raríssimo alinhamento dos planetas das esferas federal, estadual e municipal.


terça-feira, 22 de março de 2011

CULTURA EM AÇÃO, DIA 27 DE MARÇO


Dois universos normalmente vistos como opostos se encontram no programa Cultura em Ação desta semana.
Omar Fadul é flautista e compositor  ligado à Música de Concerto, chamada frequentemente de Música Erudita, como não houvesse erudição alguma em Chico Buarque, Cartola, Hermeto Paschoal, Tom Jobim, e “pela aí foi e continua indo”. Brincadeira isso.  Mas enfim, erudita ainda é melhor do que clássica. De volta ao que interessa. Fadul não faz distinção entre a esquerda e a direita na hora de tocar. Reside em Moscou e já morou nos EUA, mas é de Barra do Piraí.  Muito talentoso, uma figura simpaticíssima, mostrou três peças.  Tocamos trechos de duas sonatas para flauta e piano e um Prelúdio para Piano.  Música boa de ouvir, leve e ao mesmo tempo complexa.  Vale à pena conferir. Visitem o site do cara www.omarfadul.com
Omar Fadul, composições e perfomances de alto nível

Luiz Brasil é mais um músico carioca, nascido na Bahia.  Um dos muitos da linhagem.  Seu disco Beira é um primor.  Música sofisticada, repleta de erudição sem perder a ternura jamais.  No programa mostrou Azul do Mar, Madalena, Maraca e mais uma que eu não anotei.  Madalena ele canta, coisa rara, mas segundo a mãe do próprio, ele é o melhor cantor do Brasil. Quanto à sua posição no ranking eu me abstenho, mas sua interpretação da bela melodia nos remete ao que de melhor a Bahia já produziu, de Assis Valente à Gil, Caetano (com quem ele tocou por cerca de 10 anos) e Moraes Moreira. Site da fera: www.luizbrasil.com.br
Sofisticação e erudição com bossa

E olha só. Segundo o Ivan Bala, diretor de programação da Roquette Pinto, Cultura em Ação divide com outro programa (que eu não me lembro o nome) a melhor audiência do fim de semana da rádio.  Ô coisa boa! Parabéns recebidos que compartilho com Marlene Nunes, produtora do Cultura em Ação.
Aliás, fazendo jus ao nome do programa, semana que vem vamos estrear um micro-quadro, com uma igualmente micro-entrevista (tipo 3 minutos) pelo telefone com o Deputado Robson Leite, Presidente da Comissão de Cultura da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, a ALERJ.  Quem quiser enviar uma pergunta para o deputado fique à vontade.
Lembrando.  Domingo, 10hs, 94.1 FM, Roquette Pinto, ou pelo site www.fm94.rj.gov.br





terça-feira, 15 de março de 2011

CULTURA EM AÇÃO, 20 DE MARÇO

Roberto Gnattali e Alfredo Cardim

Dois mestres, cada um a seu modo, estiveram no Cultura em Ação.  O programa gravado às terças-feiras vai ao ar sempre aos domingos às 10 da manhã, (94.1 FM) pela Rádio Roquette Pinto.

Gnattali e Cardim são músicos experientes, com carreiras consolidadas por trajetórias vitoriosas. Também são dois amigos, o primeiro, de longa data e a outra, uma amizade que começou bem longe daqui.  Agora, sem termos combinado nada, eu e Cardim temos a oportunidade de retomar nosso papo, sem a incômoda pressa dos que transitam pelas frias ruas do hemisfério norte.  Somos vizinhos, no Lido, em Copacabana.  Coincidências da vida.

Vamos por ordem cronológica.

Gnattali conheci quando eu ainda era adolescente.  Devo a ele muito do meu progresso na música.  Sob sua orientação fiz meu primeiro arranjo: "Vou Vivendo" do Pixinguinha.  Foi um grande incentivador, o maior deles. Ele é professor da Uni Rio, um mestre visionário, capaz de antever (há algumas décadas) a necessidade de um programa de formação universitária para músicos ligados à música popular.  Hoje já existe o Bacharelado, na mesma Uni Rio, em Música Brasileira. Foi também um dos mentores da criação do Conservatório de Música Brasileira de Curitiba, cuja direção a ele coube por dez anos.  Arranjador da linhagem Gnatalli.  Compositor e um militante da música, da boa música, da música brasileira, sem se tornar um daqueles chatos nacionalistas, que acha que o mundo acaba no subúrbio carioca. Roberto foi ao programa para falar do belo trabalho abaixo, uma paródia de Pedro e o Lobo, que aproxima o Choro do universo das crianças. 



Os interessados em adquirir o belo livro podem entrar
em contato diretamente com o autor pelo telefone
(21)8819-7736 ou pelo e-mail gnattali.roberto@gmail.com

Alfredo Cardim é pianista e compositor. O conheci em 1999 em Boston.  Não convivemos tanto, é verdade, mas sempre admirei seu jeito tranquilo e seu estilo elegante ao piano, algo capaz de nos remeter ao que de melhor a Bossa Nova produziu em termos de escola, com aquela forma sofisticada e econômica de tocar. Esteve no programa mostrando um pouco do seu trabalho, do DNA Bossa Trio. D. de Duduka da Fonseca (bateria), N. de Nilson Matta (Baixo) e A. de Alfredo Cardim, é claro.  O disco foi gravado no Brooklyn, em Nova York, onde Duduka e Nilson residem.  Cardim trouxe também seu livro Brazilian Piano, editado lá na terra do Obama, que já deve ter ajudado a muito gringo na difícil tarefa de desvendar os mistérios da nossa música, no caso, o livro dedica-se a ensinar fundamentos do Choro, Samba e Bossa.



Brazilian Piano encontra-se à venda
na Toca do Vinícius em Ipanema e
na Bossa Nova, na rua Rodolfo Dantas em
Copacabana, ao lado do Beco das Garrafas

Dois mestres e dois amigos.

Foi muito bom revê-los.

Escutem e curtam o bate-papo dos dois.  Fiz o possível para não atrapalhar.

Ah, lembrando.  Domingo, dia 20 de março, 10 horas. 94.1 FM, ou pela internet, para aqueles que se encontram fora do RJ. http://www.fm94.rj.gov.br/

Saudações Musicais,

ZK

quinta-feira, 10 de março de 2011

CULTURA EM AÇÃO, DIA 13 DE MARÇO

Da esquerda para a direita: Ivan Bala, diretor de programação da Roquette,
Marlene Nunes, produtora do Cultura em Ação,
Schneider e Grau, convidados do programa.
No dia 13 de março, domingo às 10 horas da manhã, não deixem de ouvir na rádio Roquette Pinto, o programa Cultura em Ação apresentando o som de Eddu Grau e Línea Schneider.  Eddu é compositor que transita por várias vertentes da música brasileira pop contemporânea.  É Morador do Complexo do Alemão e um daqueles jovens talentos natos que impressionam pela musicalidade. Schneider, de Nova Friburgo, é cantora e compositora.  Suas composições também navegam pelas águas da diversidade, bem produzido pelo competente produtor e piansita Tiquinho, morador de Bom Jardim.

Pra firmar. Domingo, dia 13 de março, 10 horas. 94.1 FM, ou pela internet, para aqueles que se encontram fora do RJ. http://www.fm94.rj.gov.br/




terça-feira, 8 de março de 2011

BLOCO DA ANSIEDADE: FREVO SEM FREIO

Frevo vem de ferver, corruptela: frever.  E foi isso que rolou ontem em frente à Fundição Progresso no RJ.  O frevo ferveu. 
Frevo: música e dança que exigem técnica e muita energia

A saída do Bloco da Ansiedade composto por dançarinos e músicos profissionais energizou o fim de tarde do dia 7 de março. 
Foi um barato!!!
O bloco ofereceu entretenimento a foliões e amantes da música.  Alegria e boa música (instrumental) tudo junto e misturado, é possível!!!
O frevo é um estilo muito sofisticado musicalmente. As melodias são difíceis, normalmente tocadas em andamento (tempo) rápido, cheias de síncopes e antecipações que exigem precisão no desempenho da orquestra, formada ontem por sopros ( trompetes, saxofones, trombones e tuba) e percussão (caixa, pandeiro, surdo). 
Partituras nas costas do músico da frente: solução criativa

O frevo também exige muito conhecimento musical de quem faz os arranjos (ou orquestrações), ou seja, aquele que escreve o que cada músico vai tocar.  Neste caso fui informado que os arranjos eram de uma galera de peso, lá mesmo de Pernambuco, terra natal do frevo.
O bloco saiu em sintonia com as origens.  Um cordão separava músicos e dançarinos da multidão que acompanhava o cortejo, assim como ocorre desde os primórdios do sinuoso estilo.  Na Recife do passado, a banda saía protegida pelos cordões e tendo à frente, abrindo caminho, os capoeiras, que com seus gingados acabaram por influenciar ritmicamente o desenho melódico do estilo.

Capoeiras à frente das orquestras de frevo
tradicionais no carnaval de Recife

Bloco da Ansiedade. A  influência nordestina no carnaval carioca vem de longe e ontem a fundição celebrou o presente com o frevo no pé na tradição.

Flagra no Frevo


sábado, 5 de março de 2011

ITAOCARA, TERRA DE PATÁPIO SILVA

Quando cheguei ao município de Itaocara, no dia 19 de agosto de 2010, terminava a missão da equipe de campo da secretaria estadual de cultura de percorrer todos os municípios do interior fluminense.  Era o final de uma etapa importante no processo de elaboração do Plano Estadual de Cultura. 

Itaocara foi uma visita especial.  Em parte por ter sido a última, mas também porque naquela cidade, há 130 anos, nascia um dos mais importantes músicos brasileiros: Patápio Silva.



Patápio faz parte da primeira geração do Choro.  O Choro (não chamem de chorinho porque alguns músicos ligados ao gênero não toleram o termo) é considerado pelos estudiosos como o primeiro gênero musical urbano da música brasileira.  Pois é, Patápio e sua turma foram os desbravadores de uma paisagem sonora que processou a transição de alguns estilos de música européia para a música brasileira, culminando com o aparecimento do Choro. 

O encontro em Itaocara foi regado à música.  Assistimos a um grupo de jovens músicos, instrumentistas participantes do projeto Patápio Silva.  Foi legal ver o reconhecimento daqueles jovens ao ilustre itaocarense. Durante a curta apresentação me pareceu que Patápio era mais deles do que nosso, apesar do músico ter vivido grande parte da sua vida fora de Itaocara.  Mas aos vê-los se apropriando daquela forma do Patápio, acabamos, nós da equipe da secretaria,  por começar a enxergar aquele lugar de uma forma diferente, não a partir do que lemos e ouvimos a respeito, mas sim através de parte de sua identidade, ficando mais fácil distinguindo-lo de outros lugares aparentemente tão parecidos.  É isso.  Itaocara deixava de ser um local qualquer do interior para se tornar o berço de Patápio Silva, dono de uma história própria e única. Acho que não consegui dizer o que eu queria, mas deixa pra lá. 

Ainda segundo aprendi naquele dia, os primórdios da história da música daquele município nos remete ao século XIX.  Era comum naquela época que os barbeiros da cidade, grupo formado majoritariamente por afro-brasileiros, ex-escravos ou descendentes destes, se ocupassem de estudar e tocar instrumentos de origem européia. Uma fenômeno que muitos etnomusicologos acreditam ter ocorrido apenas no Rio de Janeiro e Salvador. Foi-me relatado neste encontro em Itaocara que o pai de Patápio Silva foi um desses músicos, que na Itaocara do século XIX movimentava a cena musical local. 

É esse o pedaço da rica história de Itaocara que eu queria postar.  Despeço-me mencionando também outros personagens da cultura itaocarense que estiveram conosco ou foram citados no encontro do dia 19 de agosto: os artistas plásticos Henrique Resende (então secretário), Márcia Malhano, Arivaldo Corrêa e Nilson Viegas, os integrantes do Grêmio Recreativo Escola de Samba Eu Também Vou, o pessoal da  Associação Itaocarense de Artistas e os membros da Academia de Letras de Itaocara, dentre outros que tive o prazer de conhecer.