Quando cheguei ao município de Itaocara, no dia 19 de agosto de 2010, terminava a missão da equipe de campo da secretaria estadual de cultura de percorrer todos os municípios do interior fluminense. Era o final de uma etapa importante no processo de elaboração do Plano Estadual de Cultura.
Itaocara foi uma visita especial. Em parte por ter sido a última, mas também porque naquela cidade, há 130 anos, nascia um dos mais importantes músicos brasileiros: Patápio Silva.
Patápio faz parte da primeira geração do Choro. O Choro (não chamem de chorinho porque alguns músicos ligados ao gênero não toleram o termo) é considerado pelos estudiosos como o primeiro gênero musical urbano da música brasileira. Pois é, Patápio e sua turma foram os desbravadores de uma paisagem sonora que processou a transição de alguns estilos de música européia para a música brasileira, culminando com o aparecimento do Choro.
O encontro em Itaocara foi regado à música. Assistimos a um grupo de jovens músicos, instrumentistas participantes do projeto Patápio Silva. Foi legal ver o reconhecimento daqueles jovens ao ilustre itaocarense. Durante a curta apresentação me pareceu que Patápio era mais deles do que nosso, apesar do músico ter vivido grande parte da sua vida fora de Itaocara. Mas aos vê-los se apropriando daquela forma do Patápio, acabamos, nós da equipe da secretaria, por começar a enxergar aquele lugar de uma forma diferente, não a partir do que lemos e ouvimos a respeito, mas sim através de parte de sua identidade, ficando mais fácil distinguindo-lo de outros lugares aparentemente tão parecidos. É isso. Itaocara deixava de ser um local qualquer do interior para se tornar o berço de Patápio Silva, dono de uma história própria e única. Acho que não consegui dizer o que eu queria, mas deixa pra lá.
Ainda segundo aprendi naquele dia, os primórdios da história da música daquele município nos remete ao século XIX. Era comum naquela época que os barbeiros da cidade, grupo formado majoritariamente por afro-brasileiros, ex-escravos ou descendentes destes, se ocupassem de estudar e tocar instrumentos de origem européia. Uma fenômeno que muitos etnomusicologos acreditam ter ocorrido apenas no Rio de Janeiro e Salvador. Foi-me relatado neste encontro em Itaocara que o pai de Patápio Silva foi um desses músicos, que na Itaocara do século XIX movimentava a cena musical local.
É esse o pedaço da rica história de Itaocara que eu queria postar. Despeço-me mencionando também outros personagens da cultura itaocarense que estiveram conosco ou foram citados no encontro do dia 19 de agosto: os artistas plásticos Henrique Resende (então secretário), Márcia Malhano, Arivaldo Corrêa e Nilson Viegas, os integrantes do Grêmio Recreativo Escola de Samba Eu Também Vou, o pessoal da Associação Itaocarense de Artistas e os membros da Academia de Letras de Itaocara, dentre outros que tive o prazer de conhecer.
Parabéns pelo blog!
ResponderExcluirMaravilha Zeca !
ResponderExcluirSobre os barbeiros/músicos me parece que é um fenômeno mais abrangente no Brasil. O João Pedro Borges (violonista maranhense companheiro do Turíbio Santos) aprendeu os primeiros acordes com um barbeiro de São Luis e dizia que era coisa comum por aquelas bandas que barbeiros tocassem violão. Informação a confirmar. Em todo o caso um abraçao e boas postagens ! Marcos Vela.